A pioneira paulista
Com menos de 4 mil habitantes, a cidade de Areias possui 305, 227km² de área, seu território alcança a Serra da Bocaina, onde nasce o rio Paraiba do Sul. As cachoeiras de Santa Terezinha e da Caroba no Parque Nacional da Serra da Bocaina são umas das mais procuradas pelos turistas que visitam a cidade.
Foi freguesia fundada por moradores de Resende, elevada a vila diretamente pelo imperador D. João VI em 1816, tornou-se cidade em 1857 e foi a primeira região da província de São Paulo a plantar café, por volta de 1810, e enriquecer com o "ouro verde". Hoje o setor público é o que mais gera emprego na cidade.
Em resposta as Revoltas Liberais de 1842, Areias e outras cidades do Vale do Paraíba foram anexadas à provincia do Rio de Janeiro e retornaram a São Paulo no ano seguinte.
Empregou dois renomados brasileiros, Euclides da Cunha, como Engenheiro do segundo distrito de obras e Monteiro Lobato como Promotor Publico que mais tarde lançou o livro Cidades Mortas.
No ano de 1836 Areias foi a produtora campeã da província de São Paulo com a marca de 100 mil arrobas de café. As localidades de Silveiras, Queluz, São José do Barreiro, Bananal e Arapeí tornaram-se regiões cafeicultoras também. Cada uma a seu tempo emancipou-se da pioneira Areias e atualmente, juntas configuram o circuito turístico do Vale Histórico.
Areias é uma das poucas cidades que preservou seu casario. O Hotel Sant'ana, A praça da Matriz, o coreto, palacetes e fazendas serviram de cenário para filmes e novelas. O teatro foi destruido durante os embates da revolução de 1932, ocorridos em grande parte no Vale do Paraiba chamada Frente norte.
Assim como suas cidades vizinhas nasceu de pousos de tropeiros. Muitos eram iniciados e mantidos por alguns fazendeiros com rancho, venda e as vezes até capela. Além disso, o café se aproveitou de estradas que variavam tanto do Caminho Novo como do Caminho Velho do ouro para escoar sua produção.
Em 1831 é inaugurada a estrada Resende-Ariró que ligava a cidade da província do Rio de Janeiro ao porto de Ariró na bacia de Angra dos Reis. A nova estrada passava por São José do Barreiro, subia a Serra da Bocaina e chegava à região de Mambucaba e em seguida à Ariró. Além de Resende, Areias e Bananal também foram beneficiadas pela construção da estrada que antes de ser criada obrigava seus fazendeiros a gastar mais que o triplo com transporte.
A estrada Cesarea ligava Areias e São José do Barreiro ao porto de Mambucaba por 11 léguas. Em 1839, mesmo sem finalizar a estrada, a câmara de Areias avisa ao presidente da província que entre julho e setembro de 1838 1200 mulas com mais de dez mil arrobas de café passaram por ela.
Mesmo assim os caminhos eram precários, muitas vezes cabia apenas um animal e assim iam enfileirados levando o café. Para fazer o transporte, alguns fazendeiros tinham suas próprias tropas de mula, em outros casos as tinham em sociedade com algum empregado ou agregado de sua fazenda ou apenas alugavam quando necessário.
O dono de uma tropa era chamado de tropeiro, a confiança era requisito básico para esse trabalho, afinal de contas, lidava com interesses financeiros dos cafeicultores, estilísticos de moda das senhoras, políticos dos cidadãos e governantes e comerciais dos vendedores e compradores da corte, do interior e do litoral.
Necessitavam de diplomacia e graças a ela muitos chegaram a altos cargos da administração do Império, comissários (que faziam as vezes de bancos inexistentes à época), outros se tornaram cafeicultores, mas certo é que grande parte da popularização dos costumes no país se deve aos tropeiros por transportarem além do café, informações e culturas.
Há registros que um fio de barba garantia os acordos, não havia contratos tamanha era a confiança. Na viagem, de 18 a 25 quilômetros diários, o arrieiro ou arreador era o guia da tropa, homem livre assalariado que viajava montado. Sua responsabilidade, além de entregar o café no porto, era de distribuir a carga no lombo dos animais de forma equilibrada para não atrapalhar o ritmo da tropa.
Os lotes das tropas eram levados por um tocador, na maioria das vezes escravo que ia a pé, e formados por até 8 animais, cada um com dois sacos de couro chamados de bruacas levando 8 arrobas de café. Após a colheita cerca de 20% da mão de obra da fazenda era utilizada no transporte, visto que as tropas não tinham tamanhos certos, mas há registros de 40 lotes.
Até surgirem estalagens, os pousos eram feitos em ranchos de fazendeiros que vendiam milho para os animais e pequenos produtores comercializavam seus produtos em vendas. A cada parada, os animais descansavam, as cargas eram descarregadas, os arreios costurados, os lombos curados e os tropeiros se alimentavam, descansavam e seguiam viagem.